Início do tratamento ambulatorial (clínica)

Não sei como descrever a dor que estou sentindo. Parece que eu levei uma facada e alguém pegou um pouco de álcool pra brincar no meu ferimento; sei que não vai cicatrizar tão cedo. Consegui me abaixar um pouco e minha altura caiu pra 1,66cm no consultório. Meu peso, com os líquidos que tomei e essa forte prisão de ventre que me acomete há dias estacionou direitinho nos 57 quilos. IMC 20,7. Eu já tinha os cálculos prontos na minha cabeça: uma pessoa que mede 1,66 pode pesar até 51kg pro seu peso estar no IMC limite de 18,5. -3 quilos que eu adquiro fácil com a ingestão de (muita) água e algum alimento pesado antes da pesagem e eu atinjo os 47 quilos que eu tanto almejo. Mas alguma coisa deu errada, esqueceram de me avisar que pra quem sofre de TA o IMC mínimo não é 18,5 e sim 19,5. Nunca senti tanta vontade de me pendurar no pescoço de alguém e chacoalhar como naquele momento, eu podia perder a minha cabeça. Ao invés disso tudo, uma onda que não me acometia fazia tempo: SENTIMENTO. As lágrimas começaram a rolar a medida que a nutricionista explicava pra minha mãe que aquilo era demais pra mim, que eu me sentia num corpo gordo mesmo estando normal. “Normal”. Quem não odeia essa palavra? Primeiramente, eu não acho que estou gorda. Segundo: Eu não quero ser normal. Eu quero ser magra. Sei que após a consulta enquanto eu mostrava minha indignação (acreditem, eu não consegui me controlar) perante a situação pra minha mãe e explicava pra ela que eu NÃO tenho anorexia, nunca tive, não me acho gorda, não quero ser um palito (só magra, entende?) e principalmente não quero morrer de fome ela entendia. Sei que minha mãe ainda acredita lá no fundo que a filhinha dela não tem anorexia e que isso é só uma fase ruim. Mas ela tem muito medo de desistir do tratamento e perceber que se iludiu, que eu tenho sim uma doença, que foi erro não continuar em frente e só isso impede ela de me deixar em paz. Ah, se eu pudesse abrir a cabeça de todo mundo! Eu não sei o que faço, a minha vontade é de parar de comer até que enfiem um tubo no meu nariz e daí provocar vômitos pra eliminar a alimentação da sonda, mas eu sei que vou pirar ainda mais se fizer isso e que o certo é seguir o tratamento, parar de emagrecer e enganar todo mundo, depois voltar a emagrecer. Mas tipo, EU NÃO TENHO TEMPO SABE? A vida tá passando e eu to ficando pra trás, cada dia mais gorda, cada vez pior. Eu fiz todos os passos pra ser modelo e na hora de fazer os testes minha vida acabou, simplesmente tiraram tudo de mim. É como se eu tivesse a maior vontade de ser cantora e uma das melhores vozes do mundo e me proibissem de cantar. Devastaram meus sonhos. A carreira de modelo acaba rápido, começa cedo, acaba cedo. Eu não tenho tempo. OK, estou surtando, SURTANDO.